Como de praxe, de passagem pelo Brasil para as festas de final do ano, aproveitei para rever a família, velhos amigos, fazer um ou outro contato profissional e tocar algumas pendências da minha tese nas semanas que passei entre São Paulo e Rio de Janeiro. Nestas andanças por terras brasileiras, tive a oportunidade de participar do Social Business Weekend, evento organizado pela Yunus & Youth criado para divulgar o conceito de negócios sociais entre jovens. A Yunus & Youth é uma organização que treina, equipa e conecta empreendedores sociais pelo mundo afora para escalar o impacto de seus negócios. A ideia de participar do evento era me aprofundar na temática de negócios sociais e me aproximar do mundo do empreendedorismo social no Brasil conhecendo algumas das iniciativas que estão sendo aceleradas pela Yunus & Youth por aqui.
Confesso que a princípio me senti assim meio “tiozinho da Sukita” dado que a maioria dos mais de 80 participantes do evento era formada por jovens na faixa dos 20 aos 30 anos. Mas esta sensação de estar ligeiramente deslocado, meio peixe fora d’agua, foi logo superada e em retrospectiva me inspirou a escrever esta entrada no blog do “The Sun Jar”. Creio que vale o registro… Ao participar de iniciativas como esta e me aproximar desta moçada da chamada “geração Y”, sinto reforçada a esperança que carrego lá no fundo do peito de que a realidade do nosso mundo pode ser sim alterada. Que outros caminhos são possíveis.
Há dois anos e meio, em uma carta de exposição de motivos ao Youth Leader das Nações Unidas que escrevi me disponibilizando a colaborar com seus programas citei versos de uma canção de Supertramp ao descrever meus anos de vida no mundo corporativo sem lá muito propósito… “They send me away to teach me how to be sensible, logical, responsible, and practical. And they showed me a world where I could be so intellectual, cynical…” (“Eles me mandaram para longe para me ensinar a ser sensato, lógico, responsável, e prático. E me mostraram um mundo onde eu poderia ser tão intelectual, sínico…”). A reflexão de então era que a vida acabava por nos endurecer os espíritos com a reprodução de suas “verdades” e neste processo de nos deixar convencer acabávamos nos tornando meio cínicos. Seja como indivíduos ou mesmo como sociedade… Deixávamos nos embrutecer na maioria das vezes ao apenas reproduzir os modelos pré-concebidos de vida. Como se não houvesse alternativas…
Ao entrar em contato com tantos jovens e conhecer um pouco de seus projetos e, principalmente, compartilhar de seus sonhos de não só encontrar um propósito de vida, mas também de deixar a sua marca na construção de um mundo melhor, mais justo, mais sustentável entre muitas referências me lembrei de um vídeo publicado no ano passado no UpWorthy sobre que às vezes a melhor coisa que pode nos acontecer é cometer erros. À época me inspirei a escrever que “Viver nunca será preciso por mais que nos esforcemos para controlar tudo e todos… Não errar talvez seja apenas a reprodução do que aí está. E o mundo precisa desesperadamente de gente que pense diferente e erre. E especialmente aprenda com seus erros”.
À luz destas reflexões, vale dizer que em eventos como o Social Business Weekend se pode testemunhar este fenômeno recente destes tempos pós-modernos… Da convergência entre a busca de propósito e a consciência social de jovens que ousam pensar diferente, fora das preconcepções de suas vidas perigosa e tediosamente formatadas. E que ousam sonhar com um mundo diferente. Um mundo de novas realidades… Que muitos chamariam de utopia, carregada em muito da pretensão e do entusiasmo juvenil daqueles que acreditam serem capazes de tudo. Loucos ou ainda ingênuos o bastante para pensar que podem mudar o mundo…
Aqueles que sonham com um propósito que vai além da preocupação de garantir um meio de vida e um sustento para si e para os seus e da urgência e da sofreguidão por acumular para quem sabe um dia. Que sonham com um mundo mais solidário em que o compartilhar e o construir juntos podem se converter até em bons negócios capazes de melhorar a vida daqueles menos favorecidos, promover desenvolvimento sustentável e até gerar excedentes econômicos. Eu sei que para alguns isto pode parecer ficção… Mas como disse Proust em busca do seu, do meu e do nosso tempo perdido: “se um pequeno sonho é perigoso, a cura para isso não é sonhar menos, mas sonhar mais, sonhar todo o tempo”.
Créditos da foto: Luiz Alfredo Santos